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A produção artística pelos olhos dos especialistas

Para os críticos de cinema, no entanto, a arte ainda pode e deve fazer mais pelo estado. “Do ponto de vista de produção, o cinema cearense tem crescido bastante, sim. Mais filmes cearenses chegam aos cinemas, realizam campanhas, ainda que continuem invisíveis ao público. Parece que as produções cinematográficas locais chegam às mesmas pessoas sempre, não cativando outros tipos de espectadores. Há exceções, como o recente Cine Holliúdy e Shaolin do Sertão, que teve um grande alcance de público. Mas, infelizmente, ficamos reduzidos a isso e é onde se precisa analisar e estudar o que pode ser feito para reverter a situação”, é o que diz a crítica de cinema e publicitária, Hillary Maciel. 

 

Ela destaca que o público quem consome o cinema cearense é, geralmente, o mesmo. São pessoas pertencentes de um mesmo círculo, com os mesmos interesses. Isso se torna um problema para ela, porque o alcance daquele filme se torna extremamente limitado. E, claro, isso juntamente à questões de logística e distribuição que, para os filmes locais, sempre foi um problema. “É difícil ver um filme cearense que não seja de comédia ficar mais de duas semanas em cartaz em um cinema bastante frequentado”, explica.

O jornalista e crítico de cinema da Aceccine – Associação de Críticos do Estado do Ceará, Arthur Gadelha destaca que o cinema cearense vem crescendo sob uma sombra vizinha de Pernambuco. Isso é um processo curioso porque é como se estivéssemos atrás de uma identidade que já pôde ser resumida ao cangaço e à seca, por exemplo. Esse movimento é ainda mais perceptível sob o ângulo da crítica cinematográfica, porque o cinema pernambucano sempre teve essa projeção nacional. E não que a produção cearense pudesse ser considerada inferior, mas era perceptível que tinha empecilhos quanto a sua visibilidade.

A especialista comenta que sempre há o que melhorar, seja na técnica, no roteiro ou na execução. Ela destaca que orçamentos que as obras cearenses recebem são bastante limitados. Às vezes, muito do que é produzido sai do bolso do próprio diretor e dos demais envolvidos na produção. “E isso reflete bastante na qualidade do filme. Falta apoio por parte dos órgãos públicos que cuidam de produções culturais. Além disso, há o pensamento do retorno financeiro, como o Ceará é conhecido como o estado da comédia, as produções de cinema que têm um valor de produção significativo ficam presas a esse gênero, pois é o que dá retorno. Isso é um problema, pois restringe e limita o artista. Potencial existe e sempre existiu. É importante que haja incentivo para se explorar outros gêneros e realizar cinema de boa qualidade”, pontua.

“Nos últimos tempos, essa questão veio mudando internamente (à exemplo da explosão de Cine Holliúdy pelo Brasil) e externamente também – filmes do coletivo Alumbramento, ou do Leonardo Mouramateus (um dos novos nomes do cinema local), sendo exibidos em festivais da magnitude de Locarno, provam um alcance que sempre fez parte do cinema que fazemos no Ceará. É uma situação de ascensão perceptível em qualquer dos setores interligados. Do aumento de produção à distribuição, todos esses passos testemunham”, diz.

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Sobre o destaque, ele enfatiza que o cinema está sendo “recomposto”, buscando ser ainda mais plural, ser capaz de respirar. ““Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, de Petrus Cariry, por exemplo, filmado em um Ceará que se desvirtua do imaginário vendido pela indústria de massa ao redor do Brasil. É numa constante reconfiguração que o cinema cearense pode ser mais que uma identidade reducionista”. Ele desenvolve, entretanto, que o público busca o que reconhece. “Não por outro motivo a insistência dos cinemas de shoppings e tudo o que trazem na bagagem. É uma situação perfeita que o sucesso das comédias de Halder Gomes domine um estado que é literalmente vendido Brasil afora como sinônimo do humor”, conclui Arthur. 

Como desbravar a arte 

Elogios à parte, somos um povo desbravador. É inegável que onde tem cearense, tem um pouco de inovação com ele, seja na arte erudita ou na popular. O humor, a música, a cinematografia e tantos outros elementos estão presentes no cerne dos cearenses. Para isso, é preciso criatividade e malandragem, como aponta Petrus Cariry, diretor da icônica Trilogia da Morte. 

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“Desde muito pequeno eu acompanhava o meu pai (Rosemberg Cariry) montando em casa os seus primeiros filmes em Super-8 e 16mm. Isso foi uma experiência muito marcante em minha vida, uma vivência que a academia, infelizmente, não te garante. Mais tarde, eu comecei a acompanhar as discussões sobre roteiro, os bastidores e os sets de filmagem. Comecei a entender como funciona e acrescentei a teoria e prática que tive com os anos”, explica o cineasta. 

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Para ele, a arte abre horizontes e liberta uma pessoa em diferentes níveis. “Quando um cineasta se dispõe a fazer um filme, ele deixa em destaque a sua visão de mundo. Ainda que não exista um retorno imediato, já que são muitas variáveis, não existe nenhuma garantia se o filme vai dar certo de alguma forma. Gostaria de pensar mais na longevidade dos filmes que venho realizando, no que eles representam para cinematografia brasileira, no que eles têm a dizer para o público. Não me interesso muito pelo aspecto econômico, estou tentando entender todo processo que envolve a distribuição dos filmes no mercado. Sinto um interesse da crítica pelos filmes que realizo, tenho um pequeno público que se interessa pelos filmes, o resto o tempo vai dizer", comenta

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O primeiro passo 

Reza a lenda que os cearenses são um dos maiores produtores e consumidores de conteúdo para as telonas. O exemplo mais recente disso pode ser apontado pelo Cine Holliúdy, dirigido por Halder Gomes, em 2013, que garantiu 481.203 espectadores nos cinemas e 4,9 milhões de reais no bolso da produção. Vale destacar que o filme surgiu de um curta lançado em 2004, com Gomes na direção, que foi visto em 80 festivais de 20 países e ainda ganhou 42 prêmios.  

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O filme, como pode ser conferido nos portais especializados em sétima arte, ficou latente na cultura do estado e no resto do Brasil. De referências cinematográficas, o jornalista Daniel Herculano, da Tribuna do Ceará, escreveu que “mesmo com problemas de ritmo e uma dramaticidade desnecessária, o resultado da obra é uma comédia hilariante, romântica, e que brinca com o lúdico e a nostalgia com suas exibições mambembes de cinema no interior do Ceará”. Já o crítico Luiz Joaquim, da Folha-PE, destaca que “Halder Gomes é um gênio ou, ao menos, realizou um trabalho genial com o longa-metragem”. Outro crítico conhecido do país, Celso Sabadin, pontuou que o filme não fará cinco milhões de ingressos, mas que “fará um bem danado ao cinema verdadeiramente brasileiro”. Por último, o cineasta Fernando Meireles afirmou que “a última sequência do filme, onde o personagem conta o filme para a plateia, é uma cena antológica, que deixaria Chaplin de boca aberta”.  

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Cinema Cearense

um panorama de quem faz, produz, escreve e consome a sétima arte no estado 

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Já o crítico de cinema e criador do canal Clube de Cinema de Duas Portas, Bruno Albuquerque, destaca que o papel da crítica, apesar de importante, tem tido grande desvalorização, às vezes, por parte dos próprios profissionais. Além disso, ele destaca a relevância de continuar filmando, consumindo e criticando os filmes do estado.  

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Confira nos vídeos.  

Bruno Albuquerque e Petrus Cariry

Procurando mudar

Já o ator e historiador, Thiago Camelo, mostra uma nova vertente. Ele conta que, apesar de todos os seus problemas como ator, faz de tudo para que todo dia seja um aprendizado, seja na teoria ou prática. “Não costumo ficar parado sem querer ser instigado a pensar, refletir e concluir. Chegando a ser uma dialética Hegeliana, a tese, antítese e a síntese. Acredito que, para ao ator se encontrar, ele precisa observar, tanto a ele próprio como o outro. Observar o sentir do corpo em seu processo emocional, social, cultural e histórico”.

 

Ele destaca que isso acontece uma vez que somos bombardeados diariamente por arte, visualmente, na audição, no tato e paladar. “Tenho um carinho enorme pelo riso, sua construção, seus métodos, sua história. Um gênero no teatro que mais admiro e amo é a Commedia Dell’arte. Por seus improvisos, construção do corpo cômico, personagens com críticas sociais e que parecem retirados de um desenho animado”, enfatiza.

Já sobre o cinema, ele conta que a maior grandeza é poder trabalhar com micros expressões, detalhes, que influenciam na cena e no sentimento que ela necessita transparecer. “Atualmente estou no roteiro, direção e atuação no meu primeiro curta-metragem chamado NI.5. Uma ficção com temática noir, tendo elementos de drama, ação, suspense e mistério. O projeto se encontra no site Catarse, buscando um fundo colaborativo para que o filme ocorra da maneira que queremos que seja. O colaborador encontrará recompensas, tanto para pessoa física como jurídica, poderá acompanhar o processo através do Instagram e Facebook do projeto”.

 

Ele comenta que é preciso agir, principalmente quando o mercado artístico do Estado é mal explorado. “Tem muito produto com potencial, mas muitas vezes falta espaço e divulgação. O produto regional artístico é muitas vezes apagado pelo internacional ou nacional. O Estado tem muita arte para expor, problema é o acesso. São poucos espaços para se apresentar, a demanda não é suprida”.

Como e quando começar

 

Os principais trabalhos de Thiago foram aqueles que lhe garantiram prêmios, até. “Fiz uma esquete chamada papéis laminados, em que tive o privilégio de ser convidado e atuar em um festival de esquetes de Fortaleza, com um tema pesado que foi sobre machismo, sendo gratificado como ator revelação. Outra esquete, pelo meu grupo O Inesperado, chamada de Caducando, uma comédia entre duas senhoras, onde também fui gratificado como melhor ator coadjuvante. E pelo espetáculo Quem matou Chico Magueira, apresentada no Projeto Terça de Graça, criada pelo Bené Barbosa, onde pude conhecer Ueliton Rocon, para mim um dos grandes atores e escritores cômicos”. De cinema, ele destaca a obra Como chegamos aqui, exibido pelo 25º Cine Ceará.

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Gabriel Amora

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